quinta-feira, 27 de outubro de 2011

O fogo do inferno


A História da Humanidade está repleta de casos em que civilizações ou autoridades usaram o nome de Deus para aniquilar pessoas, extinguir populações ou escravizar povos. As sanguinárias Cruzadas são apenas um desses casos. E muita gente foi levada para a fogueira por desafiar os preceitos da Igreja ou por simplesmente afirmar que a Terra era redonda.

Séculos se passaram, o mundo se tornou uma aldeia global, as religiões avançaram e se diversificaram, a internet abriu a mente das pessoas e hoje os cientistas já não falam mais em contestar a existência de Deus – mesmo que Ele tenha outro nome ou que não seja da forma que as religiões apregoam.

Porém, ainda existem pessoas que pensam e agem exatamente como nos tempos da escuridão, quando um curandeiro qualquer era lançado vivo na fogueira da Inquisição acusado de bruxaria, portanto agindo contra os preceitos divinos instituídos pelos “representantes de Deus na Terra”.

Muitos usam a religião não para libertar as pessoas e expandirem suas mentes, mas para alienar, ocultar, amedrontar, dividir, discriminar e até mesmo para enriquecer a custa de quem é capaz de dar tudo em troca da benevolência de Deus para que Ele não lance o pecador no fogo do inferno ou no tenebroso purgatório enquanto expia suas culpas na sua vida terrena.

Há os religiosos que não se cansam de se auto-proclamarem os enviados com autorização de Deus para dizer quem vai ou não para inferno, quem deve ou não ser eleito, quem é puro ou não. Existem até os que estão prontos para dizer que só o fato de ser diferente, de ser homossexual, não tem o acolhimento do Senhor Altíssimo.

O tempo das trevas do passado da Humanidade vive presente na Era da luz e dos kbytes. Estamos cercados de doutores hipócritas prontos para acusar e tornar a religião um instrumento de manipulação e medo. É como se o Deus governasse o mundo com um chicote nas mãos para surrar sem piedade, assim como faziam os senhores do engenho.

Liga-se a TV nas madrugadas e logo se percebe o circo eletrônico do horror, onde homens e mulheres desvalidos se submetem a uma lavagem cerebral do pânico espiritual. É como se aceitar Deus só funcionasse na igreja deles, na religião deles, da forma que eles querem, do jeito que eles propõem.

Há igrejas que inclusive passam mais tempo falando do demônio do que necessariamente do amor de Deus. Desvalidas de uma saúde pública de qualidade, vivendo numa sociedade doente e desgarradas dos sentimentos mais comezinhos do ser humano, as pessoas vão se entregando às manipulações das religiões em troca de um deus que promete casa e carro do ano. E seguimos “cheio de vazios”, achando que a perfeição é estar entre “os eleitos”, enquanto quem está fora merece o fogo do inferno pela eternidade.

[Jessé Souza *]
* Jornalista - jesse@folhabv.com.br - Twitter: http://twitter.com/JesseSouza

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