terça-feira, 25 de setembro de 2012

Encontro





Já fazia longos anos que não nos víamos, mas parecia que foi ontem quando tivemos uma longa discussão. Mexer com minha mãe não é um dos assuntos favoritos e que me deixa inerte, principalmente quando se trata de sua bondade e fé. Sim, ela havia lhe entregado o cartão de sua alimentação a ele, que por maldade lhe negou devolver, ficando a mercê de uma situação ridícula de subordinação. 

Logo ele que havia lhe roubado a juventude, a dignidade e um futuro brilhante, caso no tivesse cruzado seu caminho e lhe tivesse feito acreditar em suas juras secretas e um casamento lindo e duradouro. Sete frutos foi o que lhe rendera e agora ainda queria rever seu misero dinheiro de volta.

A paz é a única forma de nos sentirmos realmente humanos.
[Albert Einstein]

Mantive-me que como sempre me mantenho, em relação as minhas opiniões, bato de frente, confronto, questiono. Reviro-me do avesso. Remexo cada canto de minha memória detalhista e exponho cada ferida viva e exposta pelos momentos mantidos e fixos. Xingamos-nos, nos ofendemos e acabamos a conversa em um rápido batido de telefones, encerrado ali uma página de nossas vidas. Que para ele já havia se encerrado há vários anos, pois cortou os vínculos afetivos e paternos de convívio assim que se separou de nossa família.

E agora eu estava ali, adentrando o hospital para visitar-lhe. Seria agora o melhor momento para nos ver? Meu coração, colado a minha fé dizia que sim, que necessitava daquele momento em especifico para continuar minha caminhada. Em paz com o passado e de mãos dadas com meu futuro. Pois de chegadas e partidas é feita a vida e principalmente dos frutos que plantamos.

Vi sua cabeça grisalha e sua expressão cansada, querendo transportar uma falsa imagem de alegria, que logo sentia o impacto de minha presença. Perguntou-me se eu havia alguma história linda para contar-lhe. E comecei nossa conversa dizendo que somos autores de nossa própria história e que nada acontece conosco sem o nosso consentimento.

"Desenvolver força, coragem e paz interior demanda tempo. Não espere resultados rápidos e imediatos, sob o pretexto de que decidiu mudar. Cada ação que você executa permite que essa decisão se torne efetiva dentro de seu coração."
[Dalai Lama]

Às vezes sentia seu tom irônico em relação à vida, certa amargura, ressentimento. Mas não fomos nós nem menos “eu” quem influenciou em seu destino. Não ter seus filhos de sangue por perto, lhe auxiliando e ajudando, não foi escolha nossa. Ao contrário, jamais, fomos lembrados ou procurados para qualquer troca de carinho ou afeto.

Acredite não me recordo em nenhum momento de minha existência de ter recebido um abarco carinhoso ou um beijo de feliz aniversario. Como posso transmitir um amor, sem o ter cativado, cultivado ou semeado?

Infelizmente enquanto alguns homens pensarem que dinheiro de pensão alimentícia, repara todas as dores e danos causados por sua ausência, que ultrapassa e sana todos os limites e barreiras transpostos pelo vazio da convivência e da harmonia familiar, ainda existirão homens machistas, reproduzindo cada vez mais filhos com delinquências psíquicas e emocionais.

Sentia que no fundo de sua alma, havia remorso. Que a sua morte seria uma espécie de autopunição, de livrança de algum mau, de libertação. Parecia sarcástico ao falar de sua saúde, de sua vida e de sua situação.

Queria dizer-lhe mais e que lhe perdoava por ter sido tudo o que foi. Não um grande exemplo para ser seguido, mas como alerta, um mau exemplo para não se copiar de como não devemos nos comportar diante da vida.


Não foi um grande encontro, mais o considero um marco em minha vida. Pois sei o quanto tenho mudado exageradamente e por estar andando lado a lado com as minhas convicções e minha fé exarcebada.
A paz do coração é o paraíso dos homens.
[Platão]


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